de galochas na cozinha

Nada a ver com nada…

… mas e essa felicidade de não ter que esperar 20 minutos pra botar foto? De alterações acontecerem NA HORA? Eu achando que wordpress era uma bunda, mas o problema era a internet! Internet via rádio é compricado.

Aparece, some, tenta voltar, fica pensando numas desculpas esfarrapadas, enrola enrola enrola.

Faz o que? um mês que voltei, total joão-sem-braço quanto ao blog. Mas ainda sim duas pessoas entraram aqui ontem (DUAS! Total achei que ia ser um zero bem bonito), e buscas no google por “comeu achando que era purê de batata” desembocam aqui. Se isso é um bom sinal já são outros five hundred.

Nova proposta: vou catar entre as fotos que agora estão (quase) organizadas, ver o que mais eu podia ter falado da Irlanda que não falei. Acho que vai ter bastante coisa pra falar, MUITO CONTEÚDO sabe amiguinha. Depois a gente vê, cruzaremos essa ponte quando nela chegarmos.

Por hora serve dizer que meu indicador esquerdo, tão maltrado, cresceu! Lagartixa total, povo fica horrorizado quando vê. Fora uma sensação meio estranha quando eu aperto a ponta do dedo (mas também né, pra que fazer isso), tudo normal.

Último dia

Aconteceu o que eu desconfiava que ia acontecer. Eu tive um dia ruim, não me contive e resolvi descontar aqui, daí fiquei com vergonha de voltar. Moral da história – publicar coisas escritas à uma hora da manhã não é uma boa idéia. Eu poderia agora pedir desculpas, mas não vou, pela simples razão que se o blog era pra ser uma memória verídica, meus dias ruins também contam. Tá bom vai, eu peço desculpas, mas mais pelo fato que eu desapareci e menos pelo conteúdo do post.

Apologies made, passemos ao presente dia. Depois de uma semana meio assustadora de provas, uma sexta feira muito louca onde a galera começou a beber ao meio dia (entre as provas de reconhecimento de carne e peixe), e um jantar sensacional preparado pelas professoras, é chegada a hora de esvaziar os quartos, fazer faxina, dar tchau pra galera e cair fora. A escola precisa estar vazia as 11 da manhã pra estar tudo pronto pras pessoas do próximo curso que chegam no domingo.

Eu vou sair daqui de carro, decidi acompanhar uma das meninas no caminho de volta a Londres. Vamos de balsa na terça feira a noite, daí são mais cinco horas dirigindo. Entre hoje e terça vamos dar bandola de carro, como diria o meu pai, em East Cork. No programa estão Baltimore e Sherkin Island. Depois queremos visitar Cobh, cidade portuária de onde saíram praticamente todos os irlandeses que foram ao Novo Mundo (de Cobh também saiu o Titanic, para os fãs do Leonardo de (di?) Caprio).

Não terei internet nos próximos dias, acho. Prometo escrever algumas coisas mais bem pensadas sobre a experiência desses 90 dias. No momento tá tudo meio cru, tipo “COMO O CARALHO EU NÃO CONSEGUI PENSAR EM 4 USOS PARA GANACHE” e “PQP, EU USEI MANJERICÃO E NÃO MANJERONA NA SALADA DE TOMATE, ACHO QUE VOU ME MATAR” (ou seja, considerações de extrema significância). Vou deixar as idéias cozinhando um tempo (analogias culinárias! quem diria!), volto quando eu for fazer mais sentido.

Isso e a ressaca.

O dedo indicador esquerdo vai bem, só falta a unha crescer. O indicador direito eu queimei meio feio hoje de manhã, e logo depois derramei uma panela de água quente em cima da minha mão. Hoje foi foda mesmo antes dos acidentes, passamos um tempão cortando carne pra fazer consomme, que na minha humilde opinião não vale a pena fazer ever again. Daí sobrou pouco tempo pro resto, correria que parecia não ter fim. E, pior de tudo, eu esqueci do meu pão! Abandonei ele o dia todo, só coloquei no forno as 7 da noite. O melhor é  a galera achando que é ciabatta. Tipo, beleza, eu sei que não cresceu, mas não precisa em ofender também.

A tarde eu passei dormindo, estou desconfiada que peguei alguma coisa. Ou vai ver é só exaustão. Ainda bem que quarta feira a gente não cozinha, se eu tivesse que varrer chão, limpar forno, servir almoço, arrumar mesa tudo de novo eu teria um ataque nervoso.

Amanhã de manhã tem prova de vinho, mas parece que é múltipla escolha então estamos bem. Não me lembro qual variedade de uva vai em Champanhe e certeza que vou confundir os Pouilly Fuisse e Fume. Mas já é quase meia noite e não vai ser agora que vou descobrir essas coisas.

Mimimimi, quanta reclamação pra uma pessoa só.

Tomayto Tomahto

daqui a pouco vai ter tanto tomate nessa escola que a gente não vai querer nem olhar eles na cara

Kitchen 2

Sexta, depois de 3 semanas, foi meu último dia na Cozinha 2. Aqui eu tive um ataque de nervos por causa de geléia de morango, aprendi que crepes só com muita paciência,  pão só com muita atenção, e que com uma faca afiada na mão é melhor não começar a sonhar com a cozinha que eu vou querer quando puder ter uma cozinha só pra mim. Lições importantes.

Pão com pão

Estamos na reta final! Agora todo mundo só fala das provas, bem no estilo escola/faculdade. Antes, eu estava acostumada com povo enlouquecendo porque “meeeeu, não lí nada do Bobbio ainda”, mas agora é mais “fuuuuck, I haven’t worked out my menu!”.

A prova prática, daqui a duas semanas (!!!), consiste em organizar uma refeição (entrada, prato principal, salada e sobremesa), fazer o pedido dos ingredientes e equipamentos, cozinhar tudo em 3 horas e servir bonitinho, seguindo os esquemas Ballymaloe (prato quente pra comida quente, morno pra saladas com elementos quentes,  quentes, gelados ou frios dependendo da sobremesa. E também outras regras de decoração e disposição, só pra ver se a gente tá prestando atenção). Sexta feira (agora!) todo mundo tem que entregar o menu e a lista de ingredientes, e a galera tá começando a chapar. Eu me incluo nessa galera, ó-bi-vi-o, adoro o terrorzinho de provas.

Uma coisa que eu tenho certeza sobre o que quero fazer para a prova é incluir meu pão sourdough. Dos muitos pães que a gente tem feito, o sourdough (literalmente, massa azeda) é um dos mais legais, daqueles que provam a mágica do universo. Isso porque não se usa fermento comprado para fazer sourdough, e sim os fermentos naturais que existem no ar.

Esquema é o seguinte – durante uma semana você mistura um pouco de farinha e um pouco de água, todos os dias, misturando bem. Aqui a gente usa 2 oz de farinha e 2 fl oz de água, mas sendo partes iguais dá certo. A farinha é “strong flour”, que eu terei que pesquisar quando chegar em casa, mas suspeito ser algo como “farinha de padeiro”. A água tem que ser mineral.

o meu fermento deu uma enlouquecida

 

O fermento fica cheios de bolhas, com um cheiro forte de cerveja velha. Desde que não forme uma capa meio escura em cima, tá tudo certo.

Com o fermento pronto, o processo de fazer o pão demora mais dois dias. Eu consegui programar o acidente com o meu dedo bem no dia que meu fermento ficou pronto, e tive que pedir ajuda para conseguir misturar, amassar, colocar no forno. Foi um pão a 8 mãos, mas deu certo.

Como foi a primeira tentativa com o meu fermento, o pão não desenvolveu o sabor amargo e azedo que é típico dos sourdoughs. A cada vez que eu usar o fermento (e alimentá-lo c0m um pedaço da massa), ele vai ficar mais maduro. O que é legal também é que se eu conseguir levar esse fermento de volta para o Brasil, ele vai começar a mudar e incorporar os fermentos naturais do ar, e o pão vai ser completamente diferente. Não sei se viajar com fermento na mala é muito kosher, mas a gente vai vendo.

A idéia para a prova é fazer um entrada tipo bruschetta, com os tomates da estufa que eu sei que estarão prontos daqui a duas semanas. Ou panzanella. Dúvida cruel. Quando eu decidir os pratos (provavelmente na meia noite do dia anterior da entrega final, eu me conheço) eu compartilho.

10 dias depois

até tomei banho antes de tirar essa foto, olha como eu sou gentil

 

Dez dias se foram desde O Incidente da Salsinha. Até hoje de manhã meu dedo tava todo enrolado, eu tinha que ficar com ele esticado e apontando pra cima o tempo todo. Babaca total. E super fácil lavar louça com uma mão só, deixa eu te contar.

Fora o fim de semana (codeína, como eu te amo), eu tava tomando só ibuprofeno. Como não sobrou nada pra costurar de volta, eu acabei não indo ao médico, uma das professoras (que é treinada em primeiros socorros) trocava o curativo a cada 3 dias.

Enquanto isso, o pessoal que mora no “campus” foi atacado por uma virose violenta (ouvimos histórias de gente que teve diarréia e vômito AO MESMO TEMPO, super agradável). Eu (ainda) não tive nada, o que é surpreendente, considerando que no dia em que eu cortei o dedo passei a tarde toda assistindo Planet Earth com duas meninas que naquela mesma noite inauguraram a temporada da Doença. Vai ver ter pego o norovírus ano passado – o que adicionou à história de minha vida cenas tão belas como vomitar na porta de um McDonalds por não ter força pra chegar na lata de lixo – me imunizou.

Pelo menos as cozinhas estavam bem vazias. O que foi legal até que duas professoras também ficaram doentes. Daí, foi foda.

Sempre que a gente cozinha, o objetivo é que esteja tudo pronto às 11h30, para os professores provarem, sugerirem alterações (normalmente “mais sal”), darem as notas. Daí até meio-dia todo mundo ajuda a limpar a cozinha, organizar os pratos grandes que vão para a sala de jantar e salvar os desastres que acontecem. Esse é o OBJETIVO. A realidade é que estamos sempre atrasados, e onze e meia passa e a galera tá toda lá, correndo pra terminar. O horário usual do almoço costuma ser 12h40.

Hoje total parecia como um dos poucos dias em que eu ia conseguir terminar “cedo” (leia-se 11h40, maisoumenas). O pato tava pronto, só precisava finalizar o molho, as batatas faltavam uns 5 minutos, o molho de maçã tava no esquema. Até tive tempo de buscar os rabanetes que eu tinha plantado e montar uma salada com pepino e sementes de nigella. A bendita salada precisava de salsinha lisa, e não a salsinha enroladinha que tinha na cozinha hoje, então passei uns 10 minutos caçando salsinha nas outras cozinhas. Tudo pronto, os pratos pra servir estavam esquentando no forno, o pato dando uma descansadinha antes que eu pudesse começar a cortar, a ÚNICA coisa que faltava era picar a salsinha. Onze e meia. ONZE E MEIA. Tipo um recorde pra mim, e eu ia ser a primeira a terminar da cozinha toda. A-FUCKING-MAZING.

Daí que, com a faca grandona, eu corto meu dedo. Olho pra baixo, vejo o sangue, mando um “uuuh, Gail (profs), I think I’ve actually hurt myself this time” (porque ontem eu arranquei um pedaço da minha unha).

Consegui cortar mais ou menos um sexto da minha unha, do indicador esquerdo. E um pouco do dedo. Tipo, não vou tomar ponto porque não tem nada pra costurar, a faca passou reto. Perdi o cantinho do meu dedo, forever.

O melhor da história toda é a parte em que, quando eu ligo pra minha mãe pra relatar o ocorrido, ela começa a rir. Da hora, mãe, gente boa pacas.